FRATEL TERRA DA FRATERNIDADE |
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(Subsídios para a História de Fratel) |
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ORIGEM
"Frater" é palavra latina que significa irmão. Paralelamente, na língua italiana (que derivou do latim) utiliza-se o termo "Fratello" ou "Fratelli", como vocábulos que significam irmão ou irmãos, respetivamente. Como terá aparecido o topónimo "Fratel" e em que época da história? Parece óbvio que este topónimo tenha como raiz a palavra "Frater" ou "Fratelli", mas não se exclui que tenha outra origem.
A VINDA DOS MONGES TEMPLÁRIOS Sabe-se pela história que, D. Sancho I doou a herdade da Açafa aos monges Templários com o objetivo de fixar moradores nestas zonas ermas e defender as fronteiras do território. Estes, quando aqui chegaram, construíram ou reconstruíram o castelo que atualmente chamamos Castelo do Rei Wamba, para nele se instalarem monges cavaleiros, a fim de vigiarem e consolidarem a fronteira do Rio Tejo, ameaçada constantemente pelos mouros que atacavam pelo sul. Estes monges cavaleiros Templários vinham de diversas origens: francos, gauleses, flamengos, italianos da região noroeste, entre outros. Com os frades cavaleiros, vieram certamente muitos populares artistas, pedreiros, carpinteiros, em virtude de nesta região não existir população, para os ajudar na construção e manutenção dos castelos. O povo, com reverência, chamava "irmãos" aos monges cavaleiros, distinguidos pela sua espada e manto branco com o brasão da cruz vermelha dos cruzados. Entre os cavaleiros que vigiavam e guardavam as margens do Tejo e as povoações vizinhas, das incursões inimigas, é de presumir que haveria alguns monges italianos que se tratavam, entre si, por "frateli", irmãos. É natural que o povo os tratasse igualmente por "frateli". O povoado mais próximo, ponto de passagem nas suas rondas de sentinelas, ao longo do Tejo até à foz do Ocreza, era o que hoje se chama Fratel. É mesmo de admitir que aqui tivessem um acampamento de apoio a si, aos seus familiares e suas bestas, em virtude de o castelo não possuir essas condições mínimas. Do que foi dito e escrito, fica uma interrogação: estará a origem do topónimo "Fratel" ligada ao senhorio dos freires militares, isto é, aos frateli templários que por aqui passaram? É uma hipótese muito forte, atendendo à raiz do vocábulo.
A título de curiosidade, refere-se que o aglomerado Vilas Ruivas, ali mesmo ao lado, seria, na época, uma casa de campo - "vila" em latim significa isso mesmo, "casa de campo" ou "quinta". Seria uma casa ou um monte, onde viveria um senhor ruivo, agricultor abastado, rodeado de alguns criados. Com o rolar dos anos, este lugar ter-se-á chamado "Vila Rufi", "Vila do Ruivo", "Vila Ruivas" e hoje "Vilas Ruivas". Em 1576, o culto na ermida de Nossa Senhora do Castelo era feito pelos padres de "São Pedro de Vilar do Boi", como consta no livro das Visitações do bispado da Guarda. No entanto, em 1758, o culto desta ermida já aparece inserido na paróquia de Vila Velha de Ródão. A povoação de Vilas Ruivas que até 1842 permaneceu pertença da paróquia de Fratel, passou a pertencer à jurisdição de Vila Velha de Ródão, a partir desta data.
Outras dúvidas se levantam sobre a etimologia do topónimo das diversas povoações desta freguesia. Como se referiu na história de Vila Velha de Ródão, oa nossos primeiros reis, com a preocupação de povoarem esta região erma, terão aliciado colonos da região de Provença (França) a virem, dando-lhes terras e previlégios especiais. Com alguma probalidade, colonos de Gardet (região do vinho champanhe) terão vindo e terão dado origem a Gardete e outros da região de Le Vermont terão criado um monte agrícola que deu a povoação de Vermum. Sobre a povoação de Carepa, não é difícil adivinhar que a etimologia do seu nome teve origem na atividade piscatória dos seus habitantes e na abundância da espécie piscicola existente no rio Ocreza, ali mesmo ao lado - a carpa. O povo latino, na forma mais erudita, chamava a esta espécie, como nós, "carpa". Na forma popular o povo chamava-lhe "cár(e)pa", que na evolução fonética, levada a cabo através das gerações, deixou de ser palavra esdrúxula e se transformou em palavra grave, com assento tónico na penúltima sílaba - Carepa. Sobre Fratel, uma coisa parece certa: como povoação, é anterior à reconquista. Aqui, existem sinais evidentes da presença da civilização romana e outras anteriores, como provam as gravuras de arte rupestre, no leito do rio Tejo, aqui mesmo ao lado e os vestígios de restos de algumas antas. Mas, para validação desta tese, referente ao seu topónimo, é imperioso perguntar: será que o seu nome "Fratel" já existiria antes da reconquista? FRATEL COMO PARÓQUIA De Fratel, como paróquia, também pouco sabemos. Durante o século XVI, no livro das Visitações, onde o bispo da Guarda registava as visitas pastorais a esta parcela do seu rebanho, o nome "Fratel" só no final deste século aparece mencionado. A paróquia é sempre referida como igreja de São Pedro de Vilar do Boi. Quer isto dizer que, no século XVI, já existia a paróquia de São Pedro, mas com a sede na capela de Vilar do Boi (atual Santo Amaro). Que tenhamos conhecimento, o escrivão do bispado da Guarda refere, pela primeira vez, o nome de Fratel (no livro das Visitações), em 1576, quando a mandado do bispo, escreveu criticas ao pároco desta igreja, sobre o modo como este tinha celebrado a missa das ladainhas em Nossa Senhora do Castelo, em "Fartel" (sic) e em "Guardete" (sic). (O bispo foi informado que o pároco havia celebrado "missa de defuntos" em vez de celebrar a missa das ladainhas). As ladainhas, naquele tempo, eram celebradas nos três dias anteriores à festa da Ascenção, e em lugares diferentes da mesma paróquia. O nome Fratel só aparece escrito como sede de paróquia após a construção da sua igreja, iniciada em 1587. Sem explicação permanece, ainda hoje, o facto de a sede de paróquia ter sido na ermida de Vilar do Boi e não no povoado de Fratel que era a povoação com maior número de fogos e habitantes e onde viviam o vigário e o pároco da paróquia. Apenas encontramos uma explicação: as ermidas existentes no povoado de Fratel, naquela época, serem mais pequenas que a ermida de Vilar do Boi. O CENSO DE 1758 O documento que fala abertamente de Fratel como paróquia é o censo mandado executar pelo Marquês de Pombal, em 1758, pedindo aos bispos e párocos do reino que dessem informações precisas das suas paróquias. O então pároco de Fratel, Pe. Francisco João Rombo, natural desta paróquia, indica nesse censo como era a paróquia de Fratel e como era cada povo. Fratel, nesse ano, em 1758, tinha 86 vizinhos (isto é, fogos) e 270 pessoas. Na paróquia são referidas 17 povoações, além da sede: Gardete, com 17 vezinhos (fogos) ; Silveira, com 19; Riscada, com 15; Juncal, com 15; Vermum, com 11; Carepa, com 4; Peroledo, com 11; Vilar do Boi, com 21; Vale da Bezerra, com 6; Montinho, com 8; Marmelal, com 11; Vale da Figueira, com 5; Ladeira, com 4; Perdigão, com 30; Vilas Ruivas, com 9; Alcaria, com 4; e Mouta d'Asor, com 7. O pároco era cura apresentado pelos fregueses (escolhido pelos paroquianos) e tinha de renda 100 mil réis. Em 1758, a paróquia de Fratel já tinha as mesmas capelas que tem hoje, à excepção de Perdigão que demoliu a sua pequenina capela, no início dos anos 70 do século XX, para construir a actual, em local diferente. Merece uma referência muito especial a imagem de Nª Sª dos Remédios, venerada na ermida de Gardete. Refere o pároco de Fratel, em 1758: "Hé esta Senhora milagrosa, principalmente com as mulheres que não dão leyte às suas crianças. Muitas mulheres milagrosamente têm experimentado o remédio do leyte de tal sorte que não le chamão senão Nª Sª do Leite. Acontece nesta ermida hum milagre digno de admiração que hé não consentir que a sua porta esteja fechada, porque experimentandoce algumas vezes fechar a porta anoite, pela manhã se acha aberta, dando a entender que sempre a porta deve estar aberta". Tal como Ródão, esta paróquia pertenceu ao bispado da Guarda, até 21 de Março de 1771, data em que foi criada a diocese de Castelo Branco na qual esta paróquia foi integrada. Em 1882, foi extinta a diocese de Castelo Branco e as paróquias desta diocese extinta ficaram integradas na de Portalegre. Em 18-07-1956 foi restaurada a diocese de Castelo Branco que ficou anexa à diocese de Portalegre, com a designação de "Diocese de Portalegre - Castelo Branco" à qual esta freguesia hoje pertence. Tinha este lugar uma feira de 2 dias, a 21 e 22 de Setembro, com muita afluência de mercadores, vindos de todo o concelho de Vila Velha de Ródão e do concelho vizinho de Proença-a-Nova, tendo estes de atravessar o Rio Ocreza, de barco, antes da construção da Barragem da Pracana, em 1950, e da ponte sobre o Rio Ocreza (que dá acesso a Vale da Mua), em meados dos anos 70 do século XX. A feira continua a realizar-se nas mesmas datas, mas hoje em moldes de festa popular, em virtude de as feiras desta região terem perdido o seu cunho comercial. No passado, a povoação de Fratel, encravada entre os dois rios, já referidos, sofria dum isolamento crónico que, aliado à pobreza dos seus campos eivados de estevas, acentuava a assimetria social das suas gentes com as de outros povos vizinhos. No entanto, estes campos eram ricos em cinegética, onde predominava o coelho, a lebre e a perdiz. Mais a norte, sobretudo nos vales, produzia-se o bom azeite e praticava-se uma mini-agricultura que servia de sustento à população residente. A partir de 1891, a construção do caminho-de-ferro da Beira Baixa deu uma nova vida à povoação de Fratel. Gente empreendedora, pobre, mas com arte para o negócio, logo soube compreender e aproveitar as potencialidades que este meio de transporte trazia para a região. Na realidade, o comboio foi o maior motor de desenvolvimento da economia nacional, e ainda o meio que permitiu aproximar entre si regiões afastadas do mundo. Em Fratel, o empreendorismo de alguns comerciantes e a localização estratégica da povoação em relação às povoações do lado de lá da ribeira (assim eram conhecidos os povos desde Peral, Proença-a-Nova até Sertã), levou os empreendedores desta povoação à importação, a partir da capital, de produtos de primeira necessidade que armazenavam e vendiam aos comerciantes dos povos mais afastados. A maioria dos clientes eram os povos do lado de lá da ribeira sem acesso ao caminho-de-ferro. Por testemunhos recolhidos, sabe-se que Fratel passou a ser um importantíssimo interposto comercial de produtos de primeira necessidade: distribuição de mercearias, especiarias, sal (muito procurado na época para a matança do porco), e compra de azeite e carnes que os comerciantes exportavam para a capital Hoje, Fratel é uma freguesia muito desertificada, sem indústria, mas bairrista. Constituem os seus acessos principais a A23, o IP2, o IC8 e a linha férrea da Beira Baixa. Possui um museu - "Núcleo Museológico, História de uma Comunidade Rural - Fratel" - que retrata a história e a cultura de uma comunidade rural que, neste local, lutou pela vida durante milénios e que, nestes objetos museulógicos, nos deixou bem patente as suas atividades económicas, profissões e costumes.
DADOS PARA A HISTÓRIA DE FRATEL Do livro das "Visitações" do bispado da Guarda respigamos algumas informações de interesse, para a história de Fratel: Em 1576, o bispo da Guarda visitou esta parcela do seu rebanho e verificou que a população, desde Gardete até à Ladeira, já não cabia dentro da igreja que, naquela época, era a capela de São Pedro de Vilar do Boi. Nessa mesma visita fez um apelo à população, no sentido de ser urgente a construção de uma nova igreja. Para que tal fosse possível e não caísse no esquecimento, nessa mesma visita o bispo mandou que o vigário e o pároco, sob pena de multa, criassem uma comissão para cobrar aos paroquianos, até ao Natal desse ano, uma derrama de 20.000 reais (imposto proporcional aos rendimentos de cada lar), para iniciar o projeto da obra.
- Em 20 de fevereiro de 1587, o bispo da Guarda, visitou novamente a capela de São Pedro de Vilar do Boi. Desta vez, já com o projeto feito, o bispo ordenou ao vigário e ao pároco, sob pena de excomunhão, que começassem a construção da nova igreja, no local indicado pelo governador do bispado - no povoado de Fratel - tendo indicado o dia de São João, daquele ano, como data limite de início das obras. A partir desta data, não mais se ouve falar da paróquia de São Pedro de Vilar do Boi, mas sim de "Paróquia de São Pedro de Fratel". Assim aparece em todos os documentos futuros do bispado da Guarda.
- Em 21 de fevereiro de 1592, o bispo - D. Manuel de Coadros - visitou as obras da nova igreja de São Pedro de Fratel, iniciadas cinco anos antes. Ao observar o arco de granito da porta principal, verificou que o mesmo não estava conforme o projeto e não merecia segurança, donde, mandou que o referido arco fosse destruído e reconstruído de novo, para segurança do povo. Ao vigário e ao pároco recomendou que vigiasse para que as medeiras utilizadas no forro do telhado fossem de bom castanho. Ainda longe da inauguração, o bispo avisava já o vigário e o pároco como queria os fiéis dentro da igreja, em virtude de haver muito espaço: "Não consintam que os homens fiquem entre as mulheres, nem as mulheres entre os homens. Os homens devem ficar à frente e as mulheres atrás". Concluímos nós: bom remédio para evitar distrações!...
- Em 19 de maio de 1608, sendo bispo da Guarda D. Nuno de Noronha, a freguesia foi visitada pelo visitador Gaspar Diogo da Fonseca que encontrou a igreja ainda em obras muito atrasadas. Ouvido o povo, o visitador recebeu deste muitas queixas contra o vigário e contra o pároco que tinham culpas no atraso das obras O povo queixava-se que os dois clérigos andavam em demanda entre eles próprios e que os sinos não tocavam há mais de um ano, para anunciarem ao povo os ofícios divinos. Os dois - vigário e pároco - foram depois admoestados pelo bispo e condenados a pagarem 10 cruzados cada um, em cada dia, enquanto durasse a demanda entre eles. Além disso, de futuro, passavam a tocar os sinos aos meses, cada um, alternadamente.
- Em 05 de fevereiro de 1613, a igreja já estava ao serviço do povo, mas as obras ainda não estavam concluídas. Na capela mor e na sacristia chovia muito. Existia uma demanda com o empreiteiro, pois ainda não tinha colocado as portas da torre e feito alguns rebocos de cal. Também os pedreiros Pedro Fernandes e seu irmão João Fernandes não tinham acabado as obras que já lhes tinham sido pagas, há muito tempo. Estes foram ameaçados pelo visitador e foi-lhes aplicado um prazo de trinta dias, para as terminarem, sob pena de 3.000 reais de multa.
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